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24 Novembro 2014
Marçal de Souza Tupã' y vive!

“Marçal, Marçal,

és profeta de um novo canto,

de uma Terra livre e sem quebrantos

que é compromisso dos que estão aqui.

Marçal, Marçal,

tua morte só apressa o dia,

em que o alto preço dessa covardia,

será cobrada pelos Guarani”

(Luis A. Passos)

Marçal de Souza nasceu na véspera do Natal de 1920, em Rincão do Júlio, na região de Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, recebeu de seu povo o nome Guarani Ñandeva: Tupã’y, que significa Pequeno deus.

O “pequeno deus”, órfão, aos 8 anos foi para o orfanato da Missão Caiuá em Dourados. Aos 12, muda-se para Campo Grande com um casal de missionários evangélicos. Lá, conhece um oficial do Exército que o leva para Recife, onde trabalha em troca de comida, roupa e estudo. Volta a Dourados e dá aulas para crianças órfãs como ele. Também se torna intérprete de Guarani.

Em 1959, forma-se atendente de enfermagem, profissão que exerceria até a morte. A partir dos anos de 1970 desponta como liderança do povo Guarani, denunciando a expropriação das terras indígenas, a exploração ilegal de madeira, a escravização de índios e o tráfico de meninas indígenas.

Em 1980, é escolhido representante dos povos indígenas do Brasil para discursar ao papa João Paulo II durante sua primeira visita ao Brasil, em Manaus. Marçal fez uma fala histórica, que repercutiu em todo o mundo: “Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos Territórios são invadidos. Dizem que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto não, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Essa é a verdadeira história”.

No mesmo ano, Marçal se engaja junto de 30 famílias na luta pela demarcação da terra indígena de Pirakuá, no município de Bela Vista, vizinho a Antônio João. Pirakuá é lembrada como a primeira de um sem-número de retomadas que os Guarani Ñandeva e Kaiowá realizariam a partir de então.

A demarcação da terra é contestada pelo fazendeiro Astúrio Monteiro de Lima e seu filho Líbero Monteiro. Naqueles dias, Marçal, com 63 anos, sabia que ia morrer e falou pouco antes de sua morte: “sou uma pessoa marcada para morrer, mas por uma causa justa a gente morre”.

Após diversas ameaças e agressões, no dia 25 de novembro de 1983, Marçal Tupã’y, foi assassinado por pistoleiros com cinco tiros, sendo um na boca, em uma emboscada noturna na porta de sua casa, na aldeia Campestre, 57 quilômetros de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

“Marçal era conhecido como o homem dos lábios de mel. Suas palavras eram sempre de sabedoria. Elas buscavam a Justiça. E a resposta dos fazendeiros a isso foi dar um tiro na boca dele”, diz Roberto Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

E a batalha de Marçal, cravada na luta pela vida dos povos indígenas, ecoa até hoje entre os Guarani.

A voz de Marçal não foi silenciada, ela ecoa com firmeza e determinação nas novas lideranças que hoje denunciam a força opressora do agronegócio e, com coragem e ousadia proclamam a resistência do povo Guarani Kaiowá na luta pela retomada de seus territórios. É bom recordar a fala do cacique Jorge, da aldeia Pirakuá:

“Deram um tiro na boca do Marçal pra calar… Mas felizmente o Marçal já vinha fazendo lavoura. Já vinha plantando semente. E a semente, [são] essas pessoas aqui, esses alunos, sábios, construindo novas lideranças. [Estão] nascendo novos Marçals. Os novos, ele já plantou. Fez uma lavoura e plantou semente e nasceu novas lideranças pra continuar lutando”.

Marçal está vivo e “continua a inspirar gerações de indígenas em todo o Brasil que não tem seus direitos constitucionais garantidos: a semente foi plantada, as raízes são profundas e os frutos sadios”.

Ao celebrar a memória de Marçal, um grande guerreiro, que tombou na luta pela terra e pela vida de seu povo, queremos fazer ressoar esse grito denunciando toda forma de violência praticada contra os povos indígenas.

Como aliadas do povo Guarani Kaiowá, nós queremos celebrar o martírio de Marçal manifestando nosso apoio e solidariedade nas lutas pela vida, pela retomada de seus territórios tradicionais e a garantia de seus direitos.

Com o povo Guarani Kaiowá nós clamamos por justiça!

 

Fonte de pesquisa: CIMI, Porantim, Ano XXXVI • Nº 360

 

“Marçal, Marçal, paixão de Cristo índio, Verbo encarnado em corpo Guarani” (Confira o audio do canto de Luis A. Passos no anexo)

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Ana Pereira de Macedo

Comentários  

#1 Antonio Dari Ramos 27-03-2023 17:16
Bom dia! Sou Antonio Dari Ramos, trabalho com os Guarani e Kaiowá e atuo como professor universitário, comunicador social, compositor e animador das CEBs. Produzi e gravei em home estúdio individual, com a autorização de Luiz Augusto Passos, a música Marçal Tupa'i Guarani. Passo o link para download, caso desejem. www.palcomp3.com.br/.../É, sem dúvida, algo bastante modesto diante da poesia e genialidade de Luiz Passos.Paz e Bem!

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