“Faz escuro, mas eu canto!”
Estamos em Riberalta, Provincia de Pando, na Bolívia. Daqui falamos sobre nossas vivências em tempo de COVID. Tempo desafiador, mas de muita aprendizagem. Quando o mundo começou a parar em alguns países e as mortes aumentando por causa do COVID 19, foi angustiante ouvir e acompanhar as notícias através da TV e das mídias sociais.
Muito rapidamente o vírus chegou à América. A partir daí, fomos nos dando conta que os cuidados e providências deveriam ser seriamente assumidos.
Já no mês de março, a Conferência Episcopal de Bolívia fez seu pronunciamento, recomendando todos os cuidados necessários, incluindo o fechamento dos Templos e dos grupos de pastorais, conforme pedia a nota do Governo Federal. Na Paróquia onde atuamos, a última atividade realizada foi a celebração de Envio dos Agentes de Pastoral, no dia 15 de março de 2020.
Todas as precauções foram tomadas pelo governo federal, quando emitiu nota orientativa sobre os procedimentos a serem assumidos pela sociedade como um todo, mas sobretudo as Empresas e Unidades Educativas. Assim iniciou-se o movimento do uso de plataformas digitais para realizar as principais atividades.
O patrulhamento feito pela Polícia e Exército desde as madrugadas até a noite foi rígido e exigente. As saídas de casa eram totalmente programadas e controladas por documento de identidade. Porém, apesar de todo cuidado e cautela recomendados, muita gente não acreditou na força do vírus e continuou sua vida normal, fazendo com que a visita indesejada chegasse logo, e com força total.
E como reagiu nosso povo? Famílias com condições financeiras e estabilidade de emprego, conseguiram enfrentar a Pandemia com facilidade. Ao contrário, pessoas e famílias sem estas condições, foram afetadas com mais violência, chegando a passar sérias necessidades, tendo, inclusive que se refugiar no campo para poder sobreviver, lugar onde muitas famílias continuam até hoje.
Toda a dinâmica religiosa e celebrativa da comunidade precisou ser interrompida. Aos poucos vieram as celebrações virtuais transmitidas, em seguida as reuniões das pastorais, os encontros de catequese e outros, mesmo com resistência e falta de participação de muita gente.
O pico da COVID chegou no mês junho. Um clima de tristeza e dor tomou conta da cidade e da população. Muitas pessoas conhecidas tiveram sua vida ceifada. O hospital lotado entrou em colapso com a falta de oxigênio e muitas pessoas enfermas vieram a óbito em suas próprias casas.
Para muitas famílias o momento de perda foi muito difícil, e mesmo sendo arriscado, celebravam os velórios - um ritual popular que reza por 09 dias seguidos – para aliviar sua dor e manter por alguns dias a convivência com a pessoa querida, mesmo correndo um grande risco e contribuindo com o aumento do número de pessoas infectadas.
Mas como diz o poeta: “Faz escuro, mas eu canto!”
Em meio a toda esta triste e difícil situação, brotou a flor da solidariedade. Entre as famílias de alguns empresários, surgiu a inspiração de fazer “a panela única” de comida entre vizinhos dos bairros (Olla Comum), para suprir a grande necessidade também de fome. E assim se fez!Da parte da Igreja, a ajuda veio do Vicariato que montou um projeto para ajudar as famílias necessitadas, repassando contribuição às Paroquias, e estas, através de cestas básicas, puderam atender famílias mais carentes.
E nós, o que dizer diante da Pandemia?
Num primeiro momento tivemos medo e preocupação conosco mesmas, pois também, como muitas outras pessoas, fomos infectadas pelo vírus, e pudemos experimentar as mesmas dores e angústias do povo, mas confiantes em Deus que nunca nos abandona, prosseguimos nos cuidando orientadas pela Secretaria de Saúde e tomando as precauções necessárias.
Uma experiência interessante foi a troca de ervas medicinais próprias para aliviar os sintomas da COVID que fizemos com o povo, além de confecção de máscaras para distribuição a quem não tinha condições de adquirir. Outra contribuição oferecida foram os protetores de rosto oferecidos para os médicos, enfermeiros e técnicos, confeccionados em parceria com o Vicariato Apostólico de Pando, já que em Riberalta não foi possível encontrar este material.
Quanto a nós, não podemos negar que vivemos um momento muito exigente e delicado. Sentimo-nos, como muita gente, no limite, mas graças a Deus, vencemos! Somos gratas pelos anjos que temos e apareceram para nos ajudar e dar apoio neste momento! Somos gratas às Irmãs da Divina Providencia que nos socorreram, aos médicos que nos acompanharam em casa, aos leigos que cuidaram de nós e nos atenderam nas necessidades de serviços externos e a todas as irmãs da Congregação, formandas e simpatizantes pelas orações, sintonia e apoio. Todas as ligações, mensagens de incentivo e apoio nos ajudaram muito na recuperação.
Por todo eso, ¡Alabado sea el Señor!