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02 Junho 2021
O Corpo de Cristo e o Corpo Humano Machucado

 

Neste tempo em que vemos tantos corpos humanos sofridos e machucados, debruçamos nossa atenção sobre a festa de “Corpus Christi” e a que esta celebração nos remete. O Papa Francisco nos ajuda a entrar neste mistério sagrado:

“Na celebração da festa de Corpus Christi, corremos o risco de honrar o Corpo de Jesus, mas desprezar o corpo humano, a carne de Cristo.

Participamos com muita fé, dedicação e respeito das celebrações do Corpo de Cristo, mas pode ser que, às vezes, façamos uma profunda cisão ou ruptura entre o que celebramos e a realidade que nos cerca, ou seja, o encontro com os corpos desfigurados, explorados, manipulados, usados, escravizados, destruídos, doentes, migrantes... Pode ser que tenhamos um profundo amor e respeito pelo Corpo de Cristo vivo e presente na Eucaristia, e não O vejamos nos corpos que estão aqui, ali, lá, por todos os lados. Não nos devemos envergonhar, não devemos ter medo, não devemos sentir repugnância de tocar a carne de Cristo”.

Este é o sentido que a festa de “Corpus Christi” nos revela: o Corpo Histórico e Humano de Jesus, corpo prazeroso e sofredor, amado por muitos e muitas e rejeitado, crucificado, morto e ressuscitado. Esta é também a festa do grande Corpo de Cristo que é a Humanidade inteira.

Corpo real de Cristo são especialmente todos os que sofrem com Ele no mundo, os enfermos e famintos, os rejeitados e encarcerados, os pobres e excluídos... Eles são a humanidade ferida no Corpo do Filho de Deus.

Corpo de Cristo é também o universo inteiro, criado por Deus para que n’Ele se encarnasse e habitasse seu Filho. Assim, ao tomar o pão e o vinho em suas mãos, na ceia sagrada, Jesus abraça os bilhões de anos de evolução e chama-os de seu Corpo e de seu Sangue. Cada cristão, ao fazer “memória” do Corpo de Jesus, entra em comunhão com todas as energias da Criação.

Corpo de Cristo que continua sendo o Pão, fruto da terra e do trabalho dos homens e mulheres, todo pão que alimenta e é compartilhado, em fraternidade, a serviço dos que tem fome.

Jesus levou muito a sério a questão do corpo, o seu e o das pessoas que encontrou ao longo de sua vida. Cuidou do seu descanso e o daqueles que com Ele compartilhavam o mesmo caminho; deixou-se acariciar e ungir sua cabeça e seus pés com perfumes valiosíssimos por algumas mulheres; curou corpos atrofiados pela doença e fragilizados pela exploração. Os Evangelhos nos situam Jesus no nível da corporalidade próxima: é Ele que sabe olhar, tocar, sustentar, acariciar

Eucaristia é “Corpo” doado e partilhado, e não pura intimidade de pensamento, nem desejo separado da vida. A Eucaristia é Corpo feito de amor expansivo e oblativo, que se expressa no trabalho da terra, na comunhão do pão e do vinho, no respeito mútuo frente ao valor sagrado da vida, no meio do mundo, nas casas de todos... Não são necessários grandes templos e nem suntuosas procissões para celebrar a festa do Corpo de Deus; basta a vida que se faz doação e partilha, no amor, como Jesus fez.

Diante do Corpo de Cristo, nosso corpo se plenifica na comunhão com outros corpos, com Deus e com o corpo da natureza. Nosso humilde corpo é parte da Criação inteira e nosso bem-estar faz sorrir a natureza.

Nosso corpo constitui nossa presença no mundo e, portanto, a acolhida do próprio corpo nos projeta para uma relação sadia e de cuidado com o corpo do outro, o que determina nossa relação com Deus (Mt. 25,31-46). O corpo do ferido, do doente, do faminto, do preso, do migrante... tornam-se “territórios sagrados” onde crescemos e nos humanizamos; são os “lugares” nos quais Deus revela seu rosto compassivo.

O corpo é lugar de êxtase e de opressão, de amor e de ódio, lugar do Reino, lugar de ressurreição. É espaço de salvação, de justiça, de solidariedade, de acolhida, é lugar da experiência de Deus, da celebração, da festa, da entrega... Celebrar “Corpus Christi” é “cristificar” nossos corpos.

Assim, neste tempo de pandemia, quando ao celebrarmos a festa de Corpus Christi contemplamos milhares de corpos sendo consumidos por um vírus, somos provocadas a rever como nos relacionamos com o nosso corpo, com o corpo da(o) outra(o), com o Corpo de Cristo, com o corpo da natureza. É aqui, se manifesta a nossa relação com Deus.

 

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: .
  • Enviado por: Irmãs Miriam Spezia e Maria Poffo

Comentários  

#2 Maria Fachini 03-06-2021 21:15
Preciosa reflexión, Miriam y Maria. Mui pertinente el aporte de Eduardo Pintarelli. Teillard de Chardin, también teólogo, nos inspiró y animó en el tiempo de formación para la vida consagrada. Su influencia nos acompaña e inspira una espiritualidad encarnada en la historia, una espiritualidad que nos compromete con la vida de los pobres, con el cuidado de la creación, con la transformación del mundo según el sueño de Dios.
#1 Eduardo Pintarelli 03-06-2021 15:26
Parabéns pelo texto Irmãs. Muito reflexivo, com alguma referência em Teilhard de Chardin, brilhante filósofo e cosmólogo que dialogou com a teologia cristã. Celebrar a dimensão do corpo também é reivindicar o corpo como lugar sagrado dos direitos civis, do exercício da cidadania e das liberdades democráticas. Meditamos especialmente sobre os corpos femininos, tão violentados e oprimidos no contexto de nossa sociedade patriarcal-mach ista. Que a Divina Ruah oxigene nossas mentes e renove nossa espiritualidade a fim alcançarmos a identidade de Cristo nos corpos crucificados do nosso tempo.

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