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31 Agosto 2022
“O Senhor, estará Contigo!

 

“O Senhor, teu Deus, estará contigo por onde quer que vás"

 (Js 1,9)

 

Com este tema a Igreja no Brasil reflete, estuda e celebra neste mês da Bíblia o livro de Josué. Um dos livros bíblicos com menos textos presentes na liturgia, justamente pela linguagem que evoca  violência, extermínio, morte, crueldades, guerras de conquista.

De antemão é fundamental, na compreensão da mensagem bíblica presente no livro de Josué (Js), lembrar que a narrativa é resultado de um longo processo de redação que perpassa séculos e diferentes ambientes/contextos, especialmente efetuada no período do Exílio Babilônico (587-538 a.C) e concluída entre os anos 450-400 a.C. A intenção dos autores é enaltecer a reforma empreendida (622 a.C) pelo rei davídico Josias (640-609 a.C) e justificar suas lutas bélicas de reconquista dos territórios perdidos para a Assíria, bem como para legitimar a teocracia do  seu governo.

O assunto principal que perpassa o livro de Josué é a conquista da terra Prometida, liderada por Josué. E essa terra é Canaã. Conquista essa (1210 a.C) que efetiva todo o processo iniciado por Deus através de Moisés no Egito, com a libertação dos hebreus da escravidão (1250 a.C) e cujas bases para a concretização da vivência do Projeto de Deus, tanto lá como cá, foram gestadas durante os 40 anos de caminhada no Deserto: referência econômica (Ex 16), referência política (Ex 18, 13ss), referência social e religiosa (Ex 20, 1-17).

Os nomes Josué e Jesus têm a mesma raiz etimológica significando Deus salva. Josué recebeu de Deus, através de Moisés, a missão de introduzir o povo na terra de Canaã, terra prometida desde outrora aos pais e mães da fé. São três as qualidades que distinguem a liderança de Js: coragem, determinação e obediência. Como Moisés, também Josué recebe as ordens de Deus e as transmite ao povo e este responde.

Logo no início do livro temos presente uma mulher estrangeira e prostituta: Raab. Esta recebe e dá esconderijo para os espiões “israelitas” na sondagem para que o povo possa adentrar e ocupar a terra. Graças à ação de fidelidade de Raab o entrar na terra começará a se concretizar. Percebe-se no texto a fidelidade de Deus para com o povo hebreu e a fidelidade de Raab para com esse povo forasteiro, imigrante, que busca terra, teto e trabalho e confia na Aliança que Deus firmou.

Ontem como hoje a busca e luta pela conquista da terra por tantos que não a têm é uma constante. A terra é unicamente de Deus. É Ele que a dá ao ser humano, para que nela tenha os recursos para uma vida justa e digna. Porém, a realidade é outra: ganância, poderio, grilagem, violência, usurpação, concentração, devastação, dizimação dos povos indígenas... “moeda”. O texto-base da CNBB sobre o livro de Js, na p. 39 diz: quando vemos em nossos dias inúmeros esforços de movimentos atuando pela reforma agrária, ocupação de terras para plantio e moradia, preservação das florestas, das águas, das aves, animais, peixes e povos indígenas, fica fácil compreender a missão de Josué. Seja ontem como hoje, quem atua nos movimentos em defesa da vida, das causas do povo, deve possuir as mesmas qualidades de Josué: coragem, determinação e obediência”.

Nas narrativas dos 10 primeiros capítulos de Js há o perigo atual de justificar a violência, o uso de meios destruidores e as conquistas injustas (inclusive em nome de Deus). Isto porque ao ler esses capítulos há a compreensão errônea – se feita de forma fundamentalista - de uma conquista bélica e violenta, de assalto e sanguinária do povo liderado por Josué, com a proteção e ação de Deus, pois a Arca da Aliança (que representa a sua presença e proteção) vai à frente do “exército de Israel” dizimando os demais povos.  São narrativas com requinte de crueldade para com os povos que já estavam em Canaã. Como então, entender esses capítulos de Josué como Palavra de Deus?

Aqui é importante frisar: precisamos ler Js tendo presente a intenção teológica de quem escreveu. Era comum no Antigo Oriente enaltecer, acrescentar, tornar grandioso feitos e conquistas das potências do Oriente Antigo. Desde modo, a intenção bíblica em Josué não é oferecer dados históricos e arqueológicos. São narrativas teológicas que destacam a presença de Deus libertador e que se inspiram em feitos utilizados pelas potências de outrora. Israel nunca foi uma grande potência militar. A estratégia narrativa teológica em Js tem a intenção de apresentar Israel como um povo potente e glorioso.

É esta a compreensão que se deve ter ao ler o cerco e a tomada de Jericó (Js 6). Histórica e arqueologicamente a cidade de Jericó tinha sido destruída definitivamente no ano 1550 a.C. E o ingresso, a tomada da terra por Israel só se dá em 1210 a.C. Ao ler com atenção o texto (Js 6) se percebe que a narrativa do cerco de Jericó é um rito litúrgico e não um relato bélico.  Há a presença de sacerdotes, arca da Aliança, trombetas (chifres de carneiro) e grito (gesto usado então na liturgia). Nesse período Jericó já estava em ruínas.  Josué não era um grande guerreiro, mas um exemplo de fidelidade aos mandamentos de Deus e às orientações que recebeu de Moisés.

O que o autor bíblico quer passar ao leitor é que a vitória de Israel não depende da sua força, nem da potência do seu exército, mas unicamente de sua fé e culto a Deus. Que a terra não é conquista do povo, mas ela é dom de Deus, dada gratuitamente, sendo que Ele sempre permanece fiel ao povo. Relata, pois o poder e a fidelidade de Deus, o cumprimento de sua promessa do povo ter terra, teto, trabalho, bênção = vida com dignidade (“onde corre leite e mel”).  Mas para chegar a isto existia e existe uma enorme muralha para ser derrubada. Esta representa as dificuldades, os obstáculos. Por trás da muralha havia um oásis com água e muitas tamareiras (alimento/mel). Portanto, era e é preciso ouvir Deus, ser fiel aos seus mandamentos e enfrentar a dificuldade, para adentrar em Jericó, construir suas casas, construir uma nova sociedade e ter vida com dignidade.

O muro não foi derrubado com as armas, mas “destruído”, possibilitando a passagem, o ingresso na terra, porque Deus estava junto ao povo, como esteve durante todo o processo da libertação da escravidão egípcia e da caminhada no deserto, e porque o povo ouviu (shemá) o seu Deus – a Lei, a instrução de Deus. Esta  tem três elementos importantes: a relação com Deus, a relação consigo mesmo, e a relação com o outro e com a realidade. E era isto que o povo estava em busca e o que Deus queria e quer para todos.

Tendo clareza de que esta é a intenção da mensagem do livro de Josué, é fundamental olhar para o contexto atual e refletir: quais são os muros, as muralhas que precisam ser destruídos? Intolerâncias, preconceitos, tirania, violência, injustiça, fome, pobreza, ódio, consumismo, ameaças à democracia, desemprego, uso do nome de Deus e da fé para legitimar atos contra a dignidade de vida, concentração de terra, depredação do meio ambiente... Como Josué é essencial ter coragem, determinação e obediência (=ouvir o que Deus está a nos falar).

A efetivação de todo esse processo de gestação do Projeto de Deus e conquista da terra se dá em Js 24: a Assembleia de Siquém e o selar a Aliança.  Nela, Josué com o povo reunido faz uma memória histórica da caminhada, mostrando a perene fidelidade e presença de Deus junto ao povo e se reafirma a fidelidade que o povo deve ter para com Deus na vivência do seu projeto. Nela, Israel se firma como nação e como povo e se compromete a viver em fidelidade a Deus.

        Oxalá, ouçamos a voz de Deus!!!  Paz e Bem!

Informações adicionais

  • Fonte da Notícia: Mari Luzia Hammes

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